Acordou. Estava frio. Os lençóis de algodão davam-lhe o conforto que não tinha. Sentia o aroma a alfazema, da densa nuvem de incenso que tinha ficado da noite anterior. Olhou-se ao espelho. A sua pele pálida e o seu cabelo baço denotavam o ácido que lhe corria nas veias.
Subitamente, ouve um grito aterrorizante ao longe. A escuridão instala-se, as sombras movimentam-se freneticamente e os ecos soam cada vez mais alto. Os vidros quebram. O seu coração enfraquece à medida que as batidas aumentam. Os ecos são agora um ruído que lhe estremece os ouvidos e lhe gela o corpo. Sente-se cair num torvelinho melancólico de sentimentos que não param de a atormentar. Os gritos estão prestes a levá-la à loucura.
Ouve então a gargalhada inocente de uma criança. A pouco e pouco os fantasmas abandonam aquele espaço, os gritos cessam e o quarto é atravessado por um ténue raio de Sol matinal. O cheiro a caramelo invade-lhe o sentidos e desperta memórias de infância, esquecidas nos mais escondidos recantos do seu coração morto. A casa não lhe parecia mais a casa fantasmagórica do cume da montanha onde vivia. Era agora um casebre abandonado no meio das searas douradas, de onde se avistava a perfeita harmonia entre o céu e a terra. Agora sabia que o ruído não era mais que o grito dos seus pensamentos silenciados, que se descontrolavam. No limiar dessa tristeza encontrava-se a pureza dos tempos em que era ainda a menina de rosto tigueiro, com caracóis cor de âmbar e olhos brilhantes e cristalinos.
Acordou. Já não era mais a criança ingénua, de sorriso doce e transparente. Era apenas mais uma pobre alma convertida pelo silêncio e pelos espinhos da vida. Apenas mais uma alma solitária.
Subitamente, ouve um grito aterrorizante ao longe. A escuridão instala-se, as sombras movimentam-se freneticamente e os ecos soam cada vez mais alto. Os vidros quebram. O seu coração enfraquece à medida que as batidas aumentam. Os ecos são agora um ruído que lhe estremece os ouvidos e lhe gela o corpo. Sente-se cair num torvelinho melancólico de sentimentos que não param de a atormentar. Os gritos estão prestes a levá-la à loucura.
Ouve então a gargalhada inocente de uma criança. A pouco e pouco os fantasmas abandonam aquele espaço, os gritos cessam e o quarto é atravessado por um ténue raio de Sol matinal. O cheiro a caramelo invade-lhe o sentidos e desperta memórias de infância, esquecidas nos mais escondidos recantos do seu coração morto. A casa não lhe parecia mais a casa fantasmagórica do cume da montanha onde vivia. Era agora um casebre abandonado no meio das searas douradas, de onde se avistava a perfeita harmonia entre o céu e a terra. Agora sabia que o ruído não era mais que o grito dos seus pensamentos silenciados, que se descontrolavam. No limiar dessa tristeza encontrava-se a pureza dos tempos em que era ainda a menina de rosto tigueiro, com caracóis cor de âmbar e olhos brilhantes e cristalinos.
Acordou. Já não era mais a criança ingénua, de sorriso doce e transparente. Era apenas mais uma pobre alma convertida pelo silêncio e pelos espinhos da vida. Apenas mais uma alma solitária.
12 comentários:
Lindo! Em poucas palavras, o "cursus honorum" da vida. Não sei se foi Paul Valery a dizê-lo, ou alguém de mesmo estofo: quando esperamos, os minutos parecem anos; quando recordamos, os anos parecem minutos. E é o que se dá: a vida nos arremessa no mundo crianças e só nos dá consciência disso na idade madura, que chega tão rápido...
Beijos carinhosos
''Acordou. Já não era mais a criança ingénua, de sorriso doce e transparente. Era apenas mais uma pobre alma convertida pelo silêncio e pelos espinhos da vida. Apenas mais uma alma solitária.''
adorei . :)
Quando em lembranças e recordações o tempo tem o efeito de nos levar, mentalmente, para outros espaços e alturas já vividas. É a magia da memória.
Nem sempre os caminhos da vida são sorridentes, mas são com certeza a riqueza da história pessoal vivida e sentida, e tantas vezes sofrida em multiplicações.
Gostei muito de ler este teu texto amiga, vê-se a nostalgia, a mágoa, mas também em pequenos rasgos a alegria... a alegria do rosto trigueiro da menina gargalhando de olhos de âmbar, brilhantes e cristalinos... do cheiro a caramelo... da harmonia entre o céu e a terra...
E isto é a história de cada um, calcorrear o tempo da vida!
Lindíssimo texto... Beijinhos
a vida tem destas coisas, há-que lutar pelos nossos sonhos, pra que as vidas alheias não tomem conta deles. A vida transforma as pessoas, algumas em pessoas melhores, outras em pessoas piores, a vida é assim.
c'est la vie (:
somos transformados pela vida a cada momento... às vezes dói, mas é preciso para podermos crescer, para deixarmos ingenuidades de lado e estarmos prontos para os espinhos naturais do mundo... não tenhas medo de crescer, apenas nunca deixes de ser quem és, não deixes que ninguém atinga a tua essência! :)
um beijinho*
Uma alma que se perde assim, sem querer nem pudor. é pena, chega a roçar inimaginável, mas nao deixa de ser verdade que isso tambem acontece. Que volte a crescer a menina que não o pode fazer mais.
Beijoo
Mais um texto em harmonia com o que é habito ler no teu espaço, ou seja, muito bonito, muito sentido.
Beijito.
Que voltes a ser depressa a criança ingénua, de sorriso doce e transparente. Sim?!
Beijito querida *
Pois é, a partir do momento em que somos acordados, por quem nunca chegaremos a saber, talvez por nos mesmos, é uma nova fase que se aproxima, nunca percas a criança dentro de ti :)
beijinho, e é claro que podes voltar,farei o mesmo*
beijinhos
que mágico *-*
gosto de texto assim, com essas palavras, tão toda uma essência especial (:
beijos ;*
Triste...mas belo...
Doce beijo
Lindíssimo este texto :$$
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